No tempo em que os animais falavam, estava um dia o jabuti limpando tranquilamente sua flauta.
A onça saiu à caça e ia andando bem devagar... uma pata aqui, outra ali... O vento trouxe um cheiro de capivara. A onça ergueu o nariz... - Huuummm... Hummmm... - mas logo o vento passou e levou embora o cheiro bom de caça. Ela continuou caminhando.
De repente ouviu:
- Fim... Fim... finfinfim...
A onça parou. Ergueu as orelhas... "Que será isso? Parece que alguém está tocando flauta..." A seguir, ouviu cantar:
- Do osso da onça fiz minha flauta... Fim..Fim... finfinfim...
Quem se atreveria a cantar daquela maneira? Era provocação!
A onça foi à procura de quem cantava e alguns metros adiante deu com o jabuti tocando uma flauta de osso:
- Fim... Fim... finfinfim...
Para não assustar o jabuti, a onça aproximou-se mansamente e falou:
- Como você toca bem! Como era mesmo a letra da cantiga?
O jabuti percebeu que a onça ouvira as palavras da música e só queria ouvir outra vez para ter pé de briga. Respondeu:
- Eu cantava assim: "do osso do veado eu fiz a minha flauta..."
A onça ficou em dúvida:
- Hã! Parece que ainda agora ouvi outra coisa...
O jabuti negou:
- Não pode ser! Eu cantava isso mesmo. Você estava longe, não ouviu bem. Agora você está muito perto e a música não fica bonita. Fique aí que eu vou me afastar um pouco e você vai ouvir muito melhor!
Com essas palavras, o jabuti aproximou-se da entrada de sua toca. Achando-se a salvo, cantou:
- Do osso da onça fiz minha flauta! Fim... Fim... finfinfim...
Mal a onça ouviu a cantiga do jabuti, atirou-se num salto sobre ele. O jabuti meteu-se depressa na toca. A onça enfiou a mão na toca e agarrou a perna do jabuti. Ao sentir-se apanhado, o jabuti deu uma gargalhada e como se falasse com alguém, gritou:
- Ha! Ha! Olha só a boba da onça! Agarrou por engano uma raiz de árvore, pensando que fosse minha perna! Ha! Ha!
A onça, pensando mesmo que tivesse agarrado a raiz de uma árvore, e não querendo mais servir de motivo de chacota, largou a perna do jabuti.
Este, ria a não mais poder. Que gosto lhe dava ter enganado a onça, que metia medo em todos os animais da floresta.
Não se conteve e falou:
- Olha, boba, você tinha mesmo agarrado a minha perna; não era a raiz não! Era a minha perna mesmo. Ha! Ha!
A onça, do lado de fora, urrava de tanta raiva.
- Huuummmm, agora só quero PEGAR O JABUTI!
Ficou à espera da saída do jabuti. Este, quieto, quieto, encolheu-se na carapaça e dormiu. A onça esperava, esperava... Só queria se vingar. A onça estava com fome.
- Daqui não saio: só depois que pegar o jabuti.
A onça foi ficando magra; quando quis ir embora não podia mais andar de tanta fraqueza.
Caiu e ficou ali mesmo. Morreu.
Tempos depois, o jabuti saiu da toca, pegou um osso da perna da onça e fez uma flauta.
Tocou até tarde da noite: - Fim.. Fim.. finfinfim... do osso da onça fiz minha flauta...
Este é um divertido e inteligente conto indígena, do livro "Contos e Lendas de Índios do Brasil" de Antonieta Dias de Moraes. Ao contarmos esta história para alguém, estaremos contribuindo para a continuidade de toda esta sabedoria! Em nossa experiência, tanto adultos quanto crianças se divertem com ela.
um pouco legal
ResponderExcluirLEGAL
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