Os avanços tecnológicos e o crescimento das cidades têm ocasionado o isolamento das pessoas em detrimento do encontro e do diálogo com o outro. Podemos caracterizar o homem deste início de século como um ser isolado, preocupado consigo e longínquo da realidade em seu torno.
Inúmeras pesquisas apontam que a doença do início do século XXI é o stress conjugado a depressão, e isto ocorre como consequência do enfraquecimento das relações humanas e da “obrigação diária” estabelecida pelo mercado, onde é preciso a todo o tempo fazer-se e provar-se competente.
Lançados no mais profundo desamparo pela modernidade, cuja dinâmica, no seu avançar, destrói a tradição, os papéis assegurados pela tradição – ritos, costumes, hábitos, maneiras de ser e de viver ancestrais -, vivemos um “desenraizamento”.
Esta queima das tradições e das maneiras ancestrais de ser e viver, deixou-nos num estado onde não somos capazes de reconhecer nossa direção, o para quê da nossa existência, nossa destinação, e passamos a viver numa nova errância, constituindo-nos como seres errantes que já não sabem para onde vão e que também já não retornam.
Contudo, se a existência humana emerge justamente do encontro dialógico que determina a palavra como interação entre os homens, se faz necessária a abertura de espaços para realização do encontro entre pessoas a fim de restabelecer, ou ao menos equilibrar, as relações humanas do mundo pós-moderno.
Sem o Tu, o Eu não é possível. Há uma indubitável disponibilidade do homem para relacionar-se, para encontrar-se. O Eu se realiza na relação com o Tu. Diálogo é pois, uma necessidade existencial.
E o que é uma contação de histórias para nós?
Um espaço de encontro onde todos partilham seus saberes, suas memórias afetivas, suas emoções. Distante de uma apresentação ou um espetáculo, a contação é feita COM o público e não PARA o público.O ambiente é intimista, afetivo, e desta forma, lembranças e imagens passeiam por entre as palavras, sem pressa, levando a uma viagem pelo tempo fora do tempo, a um lugar que embora pareça longe, é de fato aqui. É o presente de estar presente, vivenciando um momento, quase uma meditação. Quando a história começa o mundo lá fora é suspenso. Só existe o mundo do era uma vez e todos fazem um pacto silencioso de acreditar no impossível, no maravilhoso.
Convidamos nossos ancestrais árabes, africanos, indígenas, europeus. Nossos irmãos e vizinhos latinos. Podem vir também os cordelistas, cantores e poetas. Somos todos do mesmo tempo; o tempo de quando criança.
“Nesse tempo a gente era quando criança. Quem é quando criança a natureza nos mistura com as suas árvores, com as suas águas, com o olho azul do céu. Por tudo isso que eu não gostasse de botar data na existência. Por que o tempo não anda para trás. Ele só andasse para trás buscando a palavra quando de suporte.” (Manoel de Barros – Memórias Inventadas)
Monalisa Lins e Evelson de Freitas
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