Quem viaja pelo norte do Brasil e atravessa o rio Amazonas, ouve sempre falar de uma tal de cobra-grande. Dizem que a cobra-grande é uma cobra de uns trinta metros de comprimento, que aparece à noite com olhos enormes e brilhantes assustando e aterrorizando quem estiver por perto. Muitos pescadores dizem que já a viram e cada um tem uma história sobre este encontro.
Agora você vai conhecer esta lenda.
Numa tarde, banhava-se no rio uma moça muito bonita. Enquanto ela lavava o rosto, sentiu que alguma coisa dentro da água roçou suas pernas. Não vendo direito o que era, logo esqueceu-se disto.
Passado algum tempo, a moça ficou grávida. Quando deu à luz teve uma grande surpresa! Nasceram dois filhos, um menino e uma menina, mas ... não eram crianças. Eram DUAS COBRAS!
A moça ficou atordoada! Foi procurar o Pajé que vivia na floresta e sabia tudo sobra as pessoas, os animais e as plantas e os espíritos. Somente ele poderia ajudá-la. Foi andando pelo meio da mata e ao se aproximar da cabana onde aquele vivia, encontrou-o na porta. Assim que o Pajé avistou a moça gritou:
- Jogue estas criaturas de volta no rio, de onde vieram!
A moça ficou muito triste, porque não tinha outros filhos... Então, antes de jogar as cobras na água deu um nome a elas: o menino ganhou o nome de Norato e a menina de Maria Caninana.
Em seguida, atirou-as no rio Amazonas.
Lá elas foram crescendo livres. E chegaram a dez, vinte, depois trinta metros. Tinham uma pele negra e grossa, com pintas amarelas e dois enormes olhos que pareciam faróis de caminhão!
Norato tinha bom coração. Ajudava os barqueiros que ficavam perdidos no meio da neblina a encontrar o caminho de volta, se crianças que não sabiam nadar se afastavam das margens ele as ajudava a voltar, afastava os jacarés que queriam atacar as pessoas que se banhavam.
Mas Maria Caninana era muito cruel. Afundava embarcações, mordia crianças, afastava os peixes prejudicando a pesca e deixando os moradores ribeirinhos com fome.
Norato tentou impedir as maldades da irmã e os dois acabaram brigando. Dizem que Norato matou Maria Caninana mas ninguém sabe.
O que se sabe é que Norato queria desfazer o feitiço que o tinha transformado em cobra. Queria ser um moço. E ele descobriu uma forma de fazer isso. Nas noites de lua cheia ele arrastava-se para a margem do rio e rastejava pelos bancos de areia até sair da água. Ao chegar na areia, saia de dentro daquela pele de cobra como um lindo rapaz...
Nestas ocasiões, ele procurava as festas que aconteciam ao longo do rio. Conversava com as moças... Adorava as músicas e dançava muito. Mas nuca dizia de onde vinha nem para onde ia, só dizia que se chamava Norato. Mas, antes que o primeiro galo cantasse, voltava a vestir sua pele de cobra e a ser Norato, a cobra.
Certa noite, em uma destas festas, avistou o Pajé. Aquele que tinha mandado a mãe jogá-lo nas águas. Percebeu que esta poderia ser a chance de saber uma forma de desencantar para sempre.! Foi falar com o Pajé que sabia quem ele era e o chamou pelo nome.
O Pajé disse que tinha sim, um jeito de desfazer aquele feitiço e ele se tornar homem para sempre.
Mas ele precisaria encontrar uma pessoa muito corajosa que, quando a cobra estivesse na beira do rio, à noite, batesse com muita força na cabeça desta, com uma lâmina virgem, até sangrar. Em seguida, teria de despejar leite de mulher entre os dentes da cobra. Assim, ele conseguiria se livrar do encanto.
A primeira pessoa a quem Norato procurou foi sua mãe. Ela foi até o rio mas quando avistou aquela cobra gigantesca, com dentes do tamanho de um braço e olhos abertos e brilhantes como dois faróis de caminhão, não teve coragem de desferir os golpes. Lembrou-se das pequenas cobras que atirara na água marrom daquele rio e desistiu.
Norato continuou procurando alguém para ajudá-lo mas ninguém aceitava. Uns ficavam com medo, outros diziam que era bobagem, outros riam.
Mas ele não desistia e uma noite, numa das festas, conheceu um soldado muito valente que afirmou ter coragem sim de ir ao encontro da cobra e desfazer o feitiço.
Então ele foi com Norato até onde estava a pele da cobra com sua cabeça gigantesca.
Desferiu os golpes de machado virgem com muta força, até que a cabeça da cobra sangrou.
Em seguida, despejou o leite de mulher entre os dentes dela. Neste instante, a pele se desmanchou, transformando-se em cinzas e voando para cima das águas do rio...
Norato era finalmente um homem! Conseguiu desfazer o feitiço!
O que aconteceu com Norato depois disso ninguém sabe. Mas, de vez em quando ouve-se uma história sobre pessoas em dificuldade ao longo do rio Amazonas. Aparece um moço bonito que ajuda, ensina o caminho, conserta os barcos... Nunca diz de onde vem ou para onde vai, diz apenas que se chama Norato.
E Maria Caninana? Bem, alguns acreditam que ela ainda vive. Dizem que é a cobra-grande que aparece à noite, com olhos como faróis de caminhão aterrorizando as pessoas rio acima e rio abaixo.
Esta versão da história foi baseada nos livros Lendas brasileira de Camara Cascudo e Cobra-grande Histórias da Amazônia de Sean Taylor onde você pode encontrar várias outras histórias maravilhosas e conhecer mais sobre a cultura deste povo.
Muito Legal essa Historia
ResponderExcluirComo o folclore brasileiro é rico!Imagina essa história em roteiro de filme ,com recursos de última geração!
ResponderExcluirPrecisamos valorizar nossas próprias histórias. Nossa identidade depende disso.
ResponderExcluirAchei muito interessante essa história da cobra Norato e Maria caninana gostei
ResponderExcluiresse lenda me traz boas lembranças e muita saudade
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